A Expansão do Peixe Betta para o Ocidente: Como um Peixe Lutador Conquistou o Mundo


Introdução

Os peixes Betta splendens, também conhecidos como peixes de briga siameses, são hoje um dos animais de estimação aquáticos mais populares do mundo. Suas cores vibrantes, caudas exuberantes e comportamento intrigante cativam aquaristas de todas as idades e níveis de experiência. No entanto, a trajetória do Betta para se tornar um dos peixes mais icônicos do aquarismo não foi acidental. A expansão desse peixe do Sudeste Asiático para o Ocidente envolveu um processo complexo de importação, adaptação e criação seletiva, que transformou um pequeno peixe lutador em um ícone da aquariofilia.

Neste artigo, vamos explorar a fascinante história da introdução do Betta no Ocidente, os cientistas e aquaristas envolvidos em sua popularização, as primeiras mutações de cor e forma, além do impacto cultural e comercial dessa jornada.


1. O Primeiro Contato: O Betta Chega à Europa

Os primeiros registros documentados sobre o Betta no Ocidente surgiram no final do século XIX. A Tailândia (antigamente chamada de Sião) já tinha uma longa tradição de criar e treinar Bettas para lutas. Essas competições chamaram a atenção de viajantes e pesquisadores europeus que exploravam a Ásia no período colonial.

Por volta de 1840, o rei Rama III da Tailândia presenteou um cientista dinamarquês chamado Theodor Cantor com alguns exemplares dos peixes de briga. Cantor ficou fascinado com as características do peixe e começou a estudá-los, registrando suas observações em um artigo publicado em 1849. Ele descreveu o peixe como Macropodus pugnax, acreditando que se tratava de uma nova espécie de peixe-lutador. No entanto, mais tarde, percebeu-se que o Betta era uma espécie distinta, levando Charles Tate Regan, em 1909, a renomeá-lo como Betta splendens, o nome científico que conhecemos hoje.

O interesse europeu pelos Bettas começou a crescer lentamente, mas foi apenas no século XX que esses peixes ganharam popularidade fora da Ásia.


2. A Chegada aos Estados Unidos: O Papel de Frank Locke

Nos Estados Unidos, os Bettas começaram a se tornar mais conhecidos a partir da década de 1910. Um dos nomes mais importantes dessa introdução foi Frank Locke, um aquarista de San Francisco que, em 1910, recebeu alguns exemplares de Bettas importados da Ásia.

Ao analisar esses peixes, Locke percebeu uma mutação interessante: um dos Bettas apresentava uma cor vermelha mais intensa do que os tons pálidos e acastanhados que eram comuns na época. Isso marcou um momento crucial na história do Betta no Ocidente, pois foi a primeira vez que uma mutação de cor foi reconhecida e propagada intencionalmente.

A partir desse momento, aquaristas começaram a experimentar cruzamentos seletivos para intensificar cores e padrões, iniciando o desenvolvimento das diversas variedades de Bettas coloridos que conhecemos hoje.


3. A Expansão Comercial e a Produção em Massa

Com o crescimento da popularidade dos Bettas nos Estados Unidos e na Europa, a demanda por esses peixes começou a aumentar significativamente. Empresas especializadas em importação de peixes tropicais começaram a trazer grandes quantidades de Bettas da Tailândia, incentivando ainda mais o comércio.

Na década de 1950, os Bettas já eram amplamente vendidos em lojas de aquarismo. A Tailândia e outros países do Sudeste Asiático começaram a desenvolver fazendas de criação especializadas, onde os peixes eram reproduzidos em larga escala para exportação. Esse período também viu o surgimento de novas variedades, incluindo Bettas com caudas mais longas e cores mais vibrantes.

A criação seletiva avançou rapidamente, levando ao desenvolvimento de linhagens como o Betta Veil Tail (cauda de véu), que se tornou o padrão dominante no comércio de peixes ornamentais durante grande parte do século XX.


4. A Revolução Genética: Novas Variedades e Cores

A partir da década de 1970, a criação seletiva de Bettas atingiu um novo patamar. Criadores começaram a experimentar cruzamentos mais sofisticados, buscando combinações genéticas que resultassem em novas cores, padrões e formas de cauda.

Foi nesse período que surgiram variedades icônicas como:

  • Halfmoon (Meia-lua): Bettas com caudas que se abrem em um ângulo de 180 graus, formando um círculo perfeito.
  • Crown Tail (Cauda de Coroa): Uma mutação que criou extensões em forma de espinhos na cauda do Betta.
  • Double Tail (Cauda Dupla): Uma mutação que resultou em peixes com a cauda dividida em dois lóbulos distintos.
  • Betta Dragão: Peixes com escamas metálicas e cores intensas.

Cada nova mutação aumentava ainda mais a popularidade do Betta e sua diversidade no mercado ocidental.


5. O Impacto Cultural e a Popularidade Atual

Hoje, o Betta é um dos peixes mais vendidos no mundo, sendo encontrado em lojas de aquarismo, supermercados e até mesmo em feiras e eventos especializados. Sua popularidade é alimentada pela facilidade de manutenção, beleza exótica e comportamento único.

Além disso, a criação de Bettas tornou-se um hobby global, com concursos e competições internacionais que premiam os exemplares mais bonitos e raros. Criadores de países como Tailândia, Indonésia, Estados Unidos e Alemanha continuam a inovar, desenvolvendo novas linhagens e cores exclusivas.

A disseminação do Betta para o Ocidente não apenas garantiu sua sobrevivência e evolução como espécie domesticada, mas também ajudou a conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação da biodiversidade e da criação responsável.


Conclusão

A jornada do Betta desde os arrozais do Sudeste Asiático até os aquários do mundo todo é uma história de fascínio, ciência e comércio. O peixe que antes era criado para lutas tornou-se um dos ícones da aquariofilia, graças à paixão e dedicação de aquaristas e criadores que ajudaram a moldar sua aparência e genética.

Seja como um companheiro solitário em um pequeno aquário ou como estrela de uma competição internacional, o Betta continua a encantar gerações com sua beleza e personalidade. E à medida que novas mutações e variedades surgem, sua história continua a ser escrita.